Tenho vivido dias pacatos. Tanto, que as guerras, nascem e morrem silenciosas no meu peito.
Arritmias tão mal empenhadas, inúteis para causar dano, muito menos, morte súbita.
Sonho com uma cidade pequena do interior com nome de santo. Acordo querendo te convidar para nos mudarmos a uma pequena casa próxima do sossego. Eu nem vou lhe dizer o quanto acredito que crianças são ótimas companhias para qualquer quintal. Para isso, temos as galinhas, os coelhos e os cães. No entanto, se você quiser.
Olha, eu não consigo odiar ninguém, mas odeio essa história de noivas... Essas de véu e vestido, joias raras e penteados caros que choram com as juras de amor como se fosse perecer seu último fôlego. No entanto, se você gostar.
Ainda quero me descobrir mulher, cientista, sua maior fã ou quem sabe, jardineira no fim de semana. Quero ser tão fácil para você, dos trinta aos sessenta. Quero poder ser mágica, fada, correspondidamente apaixonada, como se fosse a primeira vez. Quando me sentir segura, quero provar o quê deixa minha consciência pela metade. Mas, se você estiver.
Eu já nem sou tão jovem. Apesar do meu diagnóstico de indecisão crônica, não guardo a etiqueta de troca, porque isso, ah! Isso é tentar o destino. Mas, se você se for...
Se você for, vou desejar ter penhorado os móveis, os casacos, o nome e ido conhecer as feridas curadas da América Latina. Pois, quem sabe, não teria te conhecido. Vou desejar ter caído aos pedaços de um voo alto de ego com falha na aterrissagem. Vou desejar ter morrido no passado na caixa de spam de alguém com uma descoberta genial.
Então não se atreva a partir. Não terei terminado de amar você.
De fato, se for, sentirei saudade das colheitas ao meio dos sábados. Do ritualístico conflito para a escolha da intensidade da luz do quarto no início da noite. Do beijo rápido e suave pela manhã e outros pequenos hábitos que teríamos pelo resto da vida.
Com tempo, superarei. Isso não é Hollywood. É uma cidade com nome de um santo qualquer, incapaz do menor milagre.
Deixo pronto o prólogo de uma carta tragicamente desesperada a ser publicada numa antologia de baixo apreço: “Você não se parece com nada que eu não tenha motivos para amar...”