17/11/24

Obrigada meu bom amigo

Entre meus tantos trilhos tortos, depois de 27 anos viajando com o meu trem sob o risco de descarrilar, você (re)apareceu. Me ensinou a desentortar aqueles aços deibaixo do grito dramático do Sol; quente e árduo. E agora você se vai. Sinto que daqui, como tu já me ensinastes, terei que fazer os consertos sozinha. Terei que reaprender a viver sem você. 
Enquanto escrevo, fecho os olhos e vejo pontinhos azuis brilhantes, como pequenos confetes depois da festa. Acho que é você se dissipando da minha vida.
"Estar" contigo, foi o melhor ano da minha vida até agora, acho difícil que eu seja capaz de superar. Mas isso não é Hollywood, eu deveria saber que só em filme tudo é pra sempre.
Obrigada, amigo.
Amo a sua vida. Te amo pra além de respirar: amo a sua alma.
Obrigada, Deus e universo por podermos ter vivido no mesmo espaço e tempo.

21/06/24

Os baobás do Pequeno Príncipe

"É uma questão de disciplina, me disse mais tarde o principezinho. Quando a gente acaba a toalete da manhã, começa a fazer com cuidado a toalete do planeta. É preciso que a gente se conforme em arrancar regularmente os baobás logo que se distinguem das roseiras, com as quais muito se parecem quando pequenos. É um trabalho sem graça, mas de fácil execução." 


O Pequeno Príncipe Livro 

por Antoine de Saint-Exupéry

20/05/24

A vida boa durou até o fim do mês

Uma Lua dessa merecia outra noite. Uma flor dessa merecia outra selva. Amélia ou Magnólia mereciam nascer ao menos uma vez. Um eterno primeiro encontro merecia nós dois. Um amor desse merecia outra vida.

26/07/23

Quando a gente se encontrar, eu serei a mulher mais corajosa que já fui.

O amor, dos maiores medos capitais, não me assusta. Sabe, quando amei foi terrivelmente desproporcional. Batalhas iniciadas pra prerder. Mas eu estou aqui. Sem culpa, sem medo e com a coragem de ser novamente vulnerável.

Quero contar que te esperei mesmo sem saber. Mais de duas décadas e meia.

Eu encherei os pulmões como se inspirasse o ar mais puro, pra te dizer o que ensaiei pra outro que não era, enquanto meu sangue satura perto da perfeição em cada tecido do meu corpo.

Um dia a gente se encontra. E se você me enxergar primeiro, querido, acena pra mim.

Quando eu te encontrar, se for mesmo você, não haverá indecisão.

Te espero sem dúvidas.

Te quero sem dúvidas.


29/06/23

Amo as palavras que só existem quando você fala. Aquelas, que sempre estiveram lá, mas nunca antes significaram como agora.

Amo como o sua retina codifica o mundo: esse mecanismo que tens de descolorir a graça da maldade e pintar o arco-íris daquilo que é bom.

Amo como sabe sentir os sabores. E amo o teu gosto.

Amo o teu cheiro inteiro: desde as células que era ontem até as células que é hoje.

Amo os teus passos de antes e depois de mim, que te encaminharam aos bons lugares.

Amo com a certeza de um vencedor quando volta invencível para a casa. Mas também posso deixar de amar. Pacificamente. Como o perdedor que acredita que amanhã pode ser o dia.

Só que desta vez, longe do caos da capital; que no interior também se faz amor.

11/04/23

Semente do amor

Há no meu peito uma semente sem nome, sem forma, sem cheiro, acuada e com marcas digitais. Não acompanha passo-a-passo, decerto que se perdeu no primeiro plantio ou nunca existiu. Uma única mensagem: replantável. Há uma semente. Cada dia mais para dentro da superfície. Agora, um broto. Cresce todo hora um pouquinho. Temo que fique maior que eu. Não se parece com ninguém mas tem cara de ser amor.

12/02/23

Carta desesperada

Tenho vivido dias pacatos. Tanto, que as guerras, nascem e morrem silenciosas no meu peito.

Arritmias tão mal empenhadas, inúteis para causar dano, muito menos, morte súbita.

Sonho com uma cidade pequena do interior com nome de santo. Acordo querendo te convidar para nos mudarmos a uma pequena casa próxima do sossego. Eu nem vou lhe dizer o quanto acredito que crianças são ótimas companhias para qualquer quintal. Para isso, temos as galinhas, os coelhos e os cães. No entanto, se você quiser.

Olha, eu não consigo odiar ninguém, mas odeio essa história de noivas... Essas de véu e vestido, joias raras e penteados caros que choram com as juras de amor como se fosse perecer seu último fôlego. No entanto, se você gostar.

Ainda quero me descobrir mulher, cientista, sua maior fã ou quem sabe, jardineira no fim de semana. Quero ser tão fácil para você, dos trinta aos sessenta. Quero poder ser mágica, fada, correspondidamente apaixonada, como se fosse a primeira vez. Quando me sentir segura, quero provar o quê deixa minha consciência pela metade. Mas, se você estiver.

Eu já nem sou tão jovem. Apesar do meu diagnóstico de indecisão crônica, não guardo a etiqueta de troca, porque isso, ah! Isso é tentar o destino. Mas, se você se for...

Se você for, vou desejar ter penhorado os móveis, os casacos, o nome e ido conhecer as feridas curadas da América Latina. Pois, quem sabe, não teria te conhecido. Vou desejar ter caído aos pedaços de um voo alto de ego com falha na aterrissagem. Vou desejar ter morrido no passado na caixa de spam de alguém com uma descoberta genial.

Então não se atreva a partir. Não terei terminado de amar você.

De fato, se for, sentirei saudade das colheitas ao meio dos sábados. Do ritualístico conflito para a escolha da intensidade da luz do quarto no início da noite. Do beijo rápido e suave pela manhã e outros pequenos hábitos que teríamos pelo resto da vida.

Com tempo, superarei. Isso não é Hollywood. É uma cidade com nome de um santo qualquer, incapaz do menor milagre.

Deixo pronto o prólogo de uma carta tragicamente desesperada a ser publicada numa antologia de baixo apreço: “Você não se parece com nada que eu não tenha motivos para amar...”