Eu moro onde não mora ninguém
Onde a ordem de despejo não chega,
pois não há o que se requerer
Eu moro no suor que resiste e não morre na trama do tecido
Onde o relógio só tem o ponteiro dos minutos
Na resistência da erva que nasce nos rasgos do asfalto
Na artéria entupida esmagando o fluxo sanguíneo
Moro nos arrepios e nas rendições aos tesões
Nas mão que curam, ensinam, fundem,
que pavimentam caminhos e edificam pontes
Eu moro na solidão e no coro dos contentes
Na cicatrização da ferida
Moro na utopia que passa pela sua língua e atravessa os seus lábios
No batuque solitário do seu coração
Moro nas dores do ventre que parirá um filho
Eu nasço na coragem
Eu cresço na falta da liberdade
Nas rugas e fugas, nas voltas e revoltas.
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