Tomei um banho rápido, não como de costume. Pressionei com força contra a pele, uma bucha sofredora desde quando era planta, já cansada de trabalhar.
Hoje o dia está triste, que sofra tudo que há em mim.
Decidi não hidratar o corpo - como se o meu hidratante fosse capaz de amaciar coisa alguma –, ainda que cada célula se organize protestando a infelicidade em rachaduras.
Desde cedo que tudo que há em mim está sofrendo.
Assisti a uma história de homens negros escravizados que nem eram cogitados a serem chamados de humanos, mas eu não chorei. Aqui dentro, os responsáveis por operar as glândulas de produção de choro, estão de folga. É sábado, e talvez seja um descanso justo. Não os forçarei a nada, vivemos em uma sociedade livre – ou quase.
São quase quinze e ainda não comi nada. Talvez seja esse o motivo pelo qual minha sociedade interior não queira trabalhar. Mas quando a gente quer alguma coisa, aprendi que essa coisa precisa ser dita. Não ouvi ninguém pedir comida.
Será que essa sociedade dentro de mim entende o meu idioma? Digo que não me pedem as coisas, mas será que sou eu quem não a ouço?
Se os operários responsáveis por salvar as minhas memórias pudessem falar o nosso idioma, diriam o quão péssima pensante sou, pois para quem acabou de ver um filme sobre justiça e liberdade, deveria ousar matutar outras hipóteses.
Como posso pensar que tudo que há, deveria por natureza, me compreender?
Se nem mesmo os homens que amei, que sempre acreditei serem humanos como eu – embora alguma coisa dentro de mim sempre os servissem como se fossem deuses com a minha vida nas mãos –, me entenderam, se nem mesmo…
É, também há grande chance de eu não saber dizer e nem a hora.
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