04/02/18

"Quando o amor vacila"

"Eu sei que atrás deste universo de aparências,
das diferenças todas,
a esperança é preservada.

Nas xícaras sujas de ontem
o café de cada manhã é servido.
Mas existe uma palavra que não suporto ouvir,
e dela não me conformo.

Eu acredito em tudo,
mas eu quero você agora.

Eu te amo pelas tuas faltas,
pelo teu corpo marcado,
pelas tuas cicatrizes,
pelas tuas loucuras todas, minha vida.

Eu amo as tuas mãos,
mesmo que por causa delas
eu não saiba o que fazer das minhas.

Amo teu jogo triste.

As tuas roupas sujas
é aqui em casa que eu lavo.

Eu amo a tua alegria.

Mesmo fora de si,
eu te amo pela tua essência.
Até pelo que você poderia ter sido,
se a maré das circunstâncias
não tivesse te banhado
nas águas do equívoco.

Eu te amo nas horas infernais
e na vida sem tempo, quando,
sozinha, bordo mais uma toalha
de fim de semana.

Eu te amo pelas crianças e futuras rugas.

Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas
e pelos teus sonhos inúteis.

Amo teu sistema de vida e morte.

Eu te amo pelas tuas entradas,
saídas e bandeiras.

Eu te amo desde os teus pés
até o que te escapa.

Eu te amo de alma para alma.
E mais que as palavras,
ainda que seja através delas
que eu me defendo,
quando digo que te amo
mais que o silêncio dos momentos difíceis,
quando o próprio amor
vacila."

02/02/18

De um sucesso só

Se arquiteta de um sucesso só
Se silenciarem minhas outras obras,
Ao menos esta será coletivamente próspera.

Aberturas amplas,
Peitoris baixos,
para não haver engano
se necessário
confessar que não sente o que não sente,
se necessário
contrariar João-de-Barro.

Desentendido, nos peitoris baixos,
sentará João
e deixará que o vento enxugue-lhe as lágrimas.

Se arquiteta de um sucesso só
Se silenciarem minhas outras obras,
Que esta resista ao tremor da saudade.

Lembrarei dos quartos de refúgio,
do piso quente
e das rotas alternativas para a solidão.

João, Maria
Sentenciados à liberdade,
sobrevoarão a cidade
opostos,
expostos 
e suscetíveis a outros amores.