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03/07/21

É que sou humano…

 As minhas pontas à mostra 

Todas padecem de amarras.


Do lado de dentro,

Sou desobediência em fúria

Sou fronteira sem controle migratório

Sou janela defronte à rua, em descuido

Sou vento frio e violento despetalando flores.


Sou promessa sem pressa

Sou amante impotente

Sou voto de lealdade sussurrado à porta do ouvido

Sou noite fresca de descanso depois do trabalho

Sou solidão permanente

Sou também, um estádio inteiro de esperança, pelo que não se sabe se virá.


(15 jan. 2020)

30/06/21

Quando o amor vacila por Maria Bethânia

(Um dos meus dois poemas favoritos...)

Eu sei que atrás deste universo de aparências,

Das diferenças todas,

A esperança é preservada.


Nas xícaras sujas de ontem

O café de cada manhã é servido.

Mas existe uma palavra que não suporto ouvir,

E dela não me conformo.


Eu acredito em tudo,

Mas eu quero você agora.


Eu te amo pelas tuas faltas,

Pelo teu corpo marcado,

Pelas tuas cicatrizes,

Pelas tuas loucuras todas, minha vida.


Eu amo as tuas mãos,

Mesmo que por causa delas

Eu não saiba o que fazer das minhas.


Amo teu jogo triste.


As tuas roupas sujas

é aqui em casa que eu lavo.


Eu amo a tua alegria.


Mesmo fora de si,

Eu te amo pela tua essência.


Até pelo que você poderia ter sido,

Se a maré das circunstâncias

Não tivesse te banhado

Nas águas do equívoco.


Eu te amo nas horas infernais

E na vida sem tempo, quando,

Sozinha, bordo mais uma toalha

De fim de semana.


Eu te amo pelas crianças e futuras rugas.

Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas

E pelos teus sonhos inúteis.


Amo teu sistema de vida e morte.


Eu te amo pelo que se repete

E que nunca é igual.


Eu te amo pelas tuas entradas,

Saídas e bandeiras.


Eu te amo desde os teus pés

Até o que te escapa.


Eu te amo de alma para alma.


E mais que as palavras,

Ainda que seja através delas

Que eu me defenda,

Quando digo que te amo

Mais que o silêncio dos momentos difíceis,

Quando o próprio amor

Vacila.


(autor desconhecido, declamado por Maria Bethânia)

A arte de perder de Elizabeth Bishop

(Um dos meus dois poemas favoritos...)

A arte de perder não é nenhum mistério;

Tantas coisas contêm em si o acidente

De perdê-las, que perder não é nada sério.


Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,

A chave perdida, a hora gasta bestamente.

A arte de perder não é nenhum mistério.


Depois perca mais rápido, com mais critério:

Lugares, nomes, a escala subsequente

Da viagem não feita. Nada disso é sério.


Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero

Lembrar a perda de três casas excelentes.

A arte de perder não é nenhum mistério.


Perdi duas cidades lindas. E um império

Que era meu, dois rios, e mais um continente.

Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.


- Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo

que eu amo) não muda nada. Pois é evidente

que a arte de perder não chega a ser mistério

por muito que pareça (Escreve!) muito sério.


(tradução de Paulo Henriques Britto)