Mostrando postagens com marcador doses poéticas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador doses poéticas. Mostrar todas as postagens

03/07/21

É que sou humano…

 As minhas pontas à mostra 

Todas padecem de amarras.


Do lado de dentro,

Sou desobediência em fúria

Sou fronteira sem controle migratório

Sou janela defronte à rua, em descuido

Sou vento frio e violento despetalando flores.


Sou promessa sem pressa

Sou amante impotente

Sou voto de lealdade sussurrado à porta do ouvido

Sou noite fresca de descanso depois do trabalho

Sou solidão permanente

Sou também, um estádio inteiro de esperança, pelo que não se sabe se virá.


(15 jan. 2020)

03/04/20

Você fugiu da tristeza e a deixou na minha companhia

Pela rua que você se foi, nem mesmo o fantasma da madrugada voltou a passear...
A saudade fez caminho de lágrimas,
Onde escorreu, queimou e derreteu
Não houve pedra feita que pôde se sustentar...

02/02/20

Apetite

(Para ler no contexto da sua fome)

Comi, sem performar feminilidade
agonizando a miséria por deixá-la sem abrigo
faminta como o ímpeto de um novo rico.
Bebi, até que, o que jorrava passou a gotejar.
E nada comprometeu a minha consciência.
Valeu cada caloria.

13/10/19

Poema mesquinho

Se estivesse aqui pelo meu cacife…
Nem estaria.

Minha oferta é insípida, obsoleta, áspera, minguada, precária, acuada…

Espero que me entregue o resto dos seus desejos frustrados,
A sua parte que bra da, clandestina,

                      injustiçada,

mendiga, cética, encardida, magoada…
Que se eu fizer mal uso e levá-las à destruição, será gentileza.

Mas, se me deseja com o mesmo sabor que saliva os seus sonhos,
será ao próprio risco.
Pois, por essa aflição heroica,
não haverá prêmio de consolação. 

01/05/18

"Soneto LXXXVIII"

"Quando me tratas mau e, desprezado,
Sinto que o meu valor vês com desdém,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E, inda perjuro, provo que és um bem.

Conhecendo melhor meus próprios erros,
A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
Então, ao me perder, tens toda a glória.

Mas lucro também tiro desse ofício:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefício,

Pois o que ganhas duas vezes ganho.
Assim é o meu amor e a ti o reporto:
Por ti todas as culpas eu suporto."

William Shakespeare

04/02/18

"Quando o amor vacila"

"Eu sei que atrás deste universo de aparências,
das diferenças todas,
a esperança é preservada.

Nas xícaras sujas de ontem
o café de cada manhã é servido.
Mas existe uma palavra que não suporto ouvir,
e dela não me conformo.

Eu acredito em tudo,
mas eu quero você agora.

Eu te amo pelas tuas faltas,
pelo teu corpo marcado,
pelas tuas cicatrizes,
pelas tuas loucuras todas, minha vida.

Eu amo as tuas mãos,
mesmo que por causa delas
eu não saiba o que fazer das minhas.

Amo teu jogo triste.

As tuas roupas sujas
é aqui em casa que eu lavo.

Eu amo a tua alegria.

Mesmo fora de si,
eu te amo pela tua essência.
Até pelo que você poderia ter sido,
se a maré das circunstâncias
não tivesse te banhado
nas águas do equívoco.

Eu te amo nas horas infernais
e na vida sem tempo, quando,
sozinha, bordo mais uma toalha
de fim de semana.

Eu te amo pelas crianças e futuras rugas.

Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas
e pelos teus sonhos inúteis.

Amo teu sistema de vida e morte.

Eu te amo pelas tuas entradas,
saídas e bandeiras.

Eu te amo desde os teus pés
até o que te escapa.

Eu te amo de alma para alma.
E mais que as palavras,
ainda que seja através delas
que eu me defendo,
quando digo que te amo
mais que o silêncio dos momentos difíceis,
quando o próprio amor
vacila."

27/11/17

Olhos rasos d'água

Pobre rapaz
que mora logo ao fundo
Os olhos rasos d'água afogam o olhar profundo
Treme
Teme
Tanto
que temo o tremor das paredes disputam com o coração
Quem descostura a trama primeiro
Rico em saudade
Sobra vontade
Rico rapaz
que de si não tem mais nada
Que falta faz
o afago da amada.

05/11/17

Rondó da Liberdade

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão.

Não ficar de joelhos,
que não é racional renunciar a ser livre.
Mesmo os escravos por vocação
devem ser obrigados a ser livres,
quando as algemas forem quebradas.

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

O homem deve ser livre...
O amor é que não se detém ante nenhum obstáculo,
e pode mesmo existir quando não se é livre.
E no entanto ele é em si mesmo
a expressão mais elevada do que houver de mais livre
em todas as gamas do humano sentimento.

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

(Carlos Marighella)