26/07/23

Quando a gente se encontrar, eu serei a mulher mais corajosa que já fui.

O amor, dos maiores medos capitais, não me assusta. Sabe, quando amei foi terrivelmente desproporcional. Batalhas iniciadas pra prerder. Mas eu estou aqui. Sem culpa, sem medo e com a coragem de ser novamente vulnerável.

Quero contar que te esperei mesmo sem saber. Mais de duas décadas e meia.

Eu encherei os pulmões como se inspirasse o ar mais puro, pra te dizer o que ensaiei pra outro que não era, enquanto meu sangue satura perto da perfeição em cada tecido do meu corpo.

Um dia a gente se encontra. E se você me enxergar primeiro, querido, acena pra mim.

Quando eu te encontrar, se for mesmo você, não haverá indecisão.

Te espero sem dúvidas.

Te quero sem dúvidas.


29/06/23

Amo as palavras que só existem quando você fala. Aquelas, que sempre estiveram lá, mas nunca antes significaram como agora.

Amo como o sua retina codifica o mundo: esse mecanismo que tens de descolorir a graça da maldade e pintar o arco-íris daquilo que é bom.

Amo como sabe sentir os sabores. E amo o teu gosto.

Amo o teu cheiro inteiro: desde a célula que era ontem até a célula que és hoje.

Amo os teus passos de antes e depois de mim, que te encaminharam aos bons lugares.

Amo com a certeza de um vencedor quando volta invencível para a casa. Mas também posso deixar de amar. Pacificamente. Como o perdedor que acredita que amanhã pode ser o dia.

Só que desta vez, longe do caos da capital; que no interior também se faz amor.

11/04/23

Semente do amor

Há no meu peito uma semente sem nome, sem forma, sem cheiro, acuada e com marcas digitais. Não acompanha passo-a-passo, decerto que se perdeu no primeiro plantio ou nunca existiu. Uma única mensagem: replantável. Há uma semente. Cada dia mais para dentro da superfície. Agora, um broto. Cresce todo hora um pouquinho. Temo que fique maior que eu. Não se parece com ninguém mas tem cara de ser amor.

12/02/23

Carta desesperada

Tenho vivido dias pacatos. Tanto, que as guerras, nascem e morrem silenciosas no meu peito.

Arritmias tão mal empenhadas, inúteis para causar dano, muito menos, morte súbita.

Sonho com uma cidade pequena do interior com nome de santo. Acordo querendo te convidar para nos mudarmos a uma pequena casa próxima do sossego. Eu nem vou lhe dizer o quanto acredito que crianças são ótimas companhias para qualquer quintal. Para isso, temos as galinhas, os coelhos e os cães. No entanto, se você quiser.

Olha, eu não consigo odiar ninguém, mas odeio essa história de noivas... Essas de véu e vestido, joias raras e penteados caros que choram com as juras de amor como se fosse perecer seu último fôlego. No entanto, se você gostar.

Ainda quero me descobrir mulher, cientista, sua maior fã ou quem sabe, jardineira no fim de semana. Quero ser tão fácil para você, dos trinta aos sessenta. Quero poder ser mágica, fada, correspondidamente apaixonada, como se fosse a primeira vez. Quando me sentir segura, quero provar o quê deixa minha consciência pela metade. Mas, se você estiver.

Eu já nem sou tão jovem. Apesar do meu diagnóstico de indecisão crônica, não guardo a etiqueta de troca, porque isso, ah! Isso é tentar o destino. Mas, se você se for...

Se você for, vou desejar ter penhorado os móveis, os casacos, o nome e ido conhecer as feridas curadas da América Latina. Pois, quem sabe, não teria te conhecido. Vou desejar ter caído aos pedaços de um voo alto de ego com falha na aterrissagem. Vou desejar ter morrido no passado na caixa de spam de alguém com uma descoberta genial.

Então não se atreva a partir. Não terei terminado de amar você.

De fato, se for, sentirei saudade das colheitas ao meio dos sábados. Do ritualístico conflito para a escolha da intensidade da luz do quarto no início da noite. Do beijo rápido e suave pela manhã e outros pequenos hábitos que teríamos pelo resto da vida.

Com tempo, superarei. Isso não é Hollywood. É uma cidade com nome de um santo qualquer, incapaz do menor milagre.

Deixo pronto o prólogo de uma carta tragicamente desesperada a ser publicada numa antologia de baixo apreço: “Você não se parece com nada que eu não tenha motivos para amar...”

O último monólogo da Esperança

Eu que sobrevivi aos romances perdidos

Cavalguei feras indomáveis

Renunciei o medo quando vieram os demônios.


Eu que construí barcos resistentes

que suportaram a viagem e a volta para casa

que pensei que ninguém pudesse me vencer

Subordinadamente aceito a despedida.


Fui voto vencido na minha própria democracia

Soldado eviscerado na guerra que eu comecei.


Entendo que você pode viver sem Esperança

e não é o fim do mundo.

Quero ficar na sua vida,

mas não a qualquer preço.


Contei belas histórias, mas é o meu fim.

Memorandos de uma terra distante

São só memorandos

de uma terra distante

de punhos fatigados do combate

de uma mente no meio do delírio da percepção.


Queria te escrever

que descobri algumas verdades

fundamentais sobre a realidade.


Que depois disso,

aceito o estado morno das coisas, dos humores, humanos

Que o frio e o quente

são extremos exigentes demais para serem constantes!


Só memorandos...

Onde os arranhões das palavras às folhas

contam mais, do que eu a você.

Desejos do fim do mundo

Em casa, à mesa

pedindo-me para comer

para ficar ao teu lado.


Eu fico!

Entrelaço nas pernas

pele, pêlo, pescoço.


Conte-me teus desejos do fim do mundo

que te sirvo, cedo, repito.


Todos meus cantos são teus

tudo, grita o teu nome:

suspiros, gemidos, arrepios.


Entrego-te suor jovem e juízo

E lembro de onde minhas mãos realmente são úteis:

escrevendo!


Poemas, impressões

digitais, arranhões

sem medo ou sentenças

sem pressa ou correntes.


Rendo-me a um vocabulário

que em outras circunstâncias não saberia nem ao meio

Que outro, não o compreenderia.


Repara-me os traços

e os músculos trêmulos no meu corpo.


Viva, ao vivo, escrevo-te

à minha maneira

meu best seller da vida inteira.